Ontem às 21h mais ou menos … na escola onde trabalho, eu e uma colega:
Clg: _ Já sabes da última?
Eu: _ Qual é desta vez?
Clg: _ Parece que a nossa Ministra veio a público dizer que os nossos alunos não podem já reprovar. Consta que representa uma grande despesa para o Estado.
Eu: _ Interessante. E isso é já este ano lectivo ou só para o próximo?
Clg: _ Pois não sei. Entretanto uma psicóloga explicou também que as reprovações não ajudam em nada as crianças. Servem apenas para dificultar a vida aos alunos e destruir-lhes a auto-estima.
Eu: _ … (não disse mais nada).
Antes de uma análise detalhada deste pequeno diálogo, convém especificar que pressuponho esta “novidade” já ter alguns dias … desconhecia como tenho evitado conhecer as últimas ideias brilhantes de quem tutela a Educação em Portugal. Este ano lectivo o massacre tem sido mais que muito e neste momento, está em causa a minha própria saúde e sanidade mental … parece-me prioritária. Como tal, penso que, tal como já referi em post anterior, “o autismo é o caminho”.
Voltemos ao diálogo. Não vos parece uma conversa quase surreal? Pois, é aquilo que eu acho agora, mas expressa com clarividência o estado da educação em Portugal.
Mais surreal é ainda a minha questão. Centremo-nos nela, está propositadamente a negrito. Foi a questão imediata que coloquei, na mais pura espontaneidade e sem qualquer intuito de ironizar o que quer que fosse, daí a minha preocupação. Ter-me centrado no momento em que tal ideia mirabulante da nossa ministra teria lugar, sem sequer questionar ou ponderar o grau de lucidez desta medida, deixou-me preocupadíssimo comigo mesmo. Talvez seja já um sinal do desgaste ou da desmotivação que sinto, mas que parece também ser da generalidade dos professores em Portugal. De acordo com o Ministério, reprovar é mau sobretudo por representar uma despesa acrescida ao Estado. As questões educativas têm lugar nisto??? Não me parece.
Entretanto segundo a tal psicóloga, reprovar destrói a auto-estima dos meninos. Claro que destrói … basta ver a sensação de tristeza com que muitos ficam quando competem e fazem comparações entre eles para ver quem teve a negativa mais baixa no teste ou quem tem mais negativas ou participações disciplinares. Também mostram a sua tristeza quando são mal-educados e se vangloriam disso ou quando não fazem os tpc’s e outros deveres e isso é motivo de graça e de confronto com a disciplina e a ordem que o professor tenta impor … ficam tão tristes e com a auto-estima completamente destroçada. E os alunos cumpridores e aplicados, será que a sua auto-estima não fica penalizada quando percebem que independentemente de serem responsáveis e dedicados, todos transitam em igualdade de circunstâncias?
Para não ficarem com a auto-estima destroçada, fica então esclarecido que os alunos devem sempre transitar a dessa forma acumular dificuldades nos anos lectivos seguintes, para nunca mais as ultrapassarem e aí sim, ficarem com a clara sensação de que são incapazes de acompanhar os outros na aquisição de conhecimentos. Esta é a receita para que os nossos alunos não se sintam prejudicados. Também será, creio, uma mensagem de reforço positivo para os restantes alunos, aqueles poucos que ainda se empenham, sabem?! … certamente que estarão muito mais empenhados ao perceberem que os seus colegas que não querem fazer mais nada nas aulas a não ser enviar mensagens com o telemóvel, ouvir mp3 e instalar a confusão, transitarão exactamente como eles para o ano lectivo seguinte.
Mas acho muito bem … estamos definitivamente no bom caminho. Acho que sim, para bem da educação e do ensino em Portugal, toda a gente deve transitar … todos menos os professores. Esses malandrecos é que têm de preparar aulas absolutamente extraordinárias (para quê, não sei … não é suposto os alunos passarem incondicionalmente, sabendo ou não?!) … dar o programa todo (igualmente estranho, se os alunos não precisam de estudar), nunca faltar (continua a ser esquisito), etc, etc.
Como é que se pode solucionar estes problemas?
Já que vivemos no meio da palhaçada e do desgoverno …
1- acabar-se de vez com o sistema de avaliação quantitativa – não é necessária se os alunos não podem reprovar;
2- pensar se é necessário uma avaliação qualitativa – talvez só para os alunos que se aplicam, reforçando-os positivamente. Os outros não precisam, está tudo a correr bem porque estão na escola e não abandonaram ainda o estabelecimento ( o maior drama para o Estado);
3- assim sendo, acabar-se com reuniões de avaliação ou intercalares – convenhamos que são desnecessárias. É para avaliar o quê e quem? … só se forem os professores;
4- transformar reuniões de avaliação em reuniões de confraternização com comes e bebes … muito mais animado; já agora, trazer os alunos para essas reuniões, para estarem menos tempo em casa com os pais e passarem mais tempo na escola, como quer o nosso Ministério;
5- acabar com critérios de avaliação (estes, a existir, são necessários só à avaliação dos professores) – nas primeiras aulas dizemos que eles não serão avaliados já que isso destrói a sua auto-estima; os alunos poderão fazer o que quiserem desde que, nas aulas assistidas finjam comportar-se em condições para não prejudicar a avaliação do professor;
6- pedir aos alunos que, apesar de não reprovarem, não deverão abandonar a escola (é um critério que nos vai avaliar), não deverão condicionar o professor no cumprimento do programa (também é um critério que o vai avaliar), deverão ter alguma sensibilidade para não prejudicar a carreira profissional do professor. O professor promete compensá-los depois com melhores notas (ainda que fictícias), chocolates, deslocações aos centros comerciais (vulgo, visitas de estudo … para os relatórios que contribuem para a nossa avaliação) e outras benesses.
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