Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007

Calamidade de última hora! Gravíssimo ...

O novo Estatuto do Aluno do Ensino não superior pretende, depois de toda a dignidade nos ter sido retirada, finalmente dar mais autoridade aos professores. Parecia uma agradável notícia, pois é .... mas não é. A parte da suposta maior autoridade tem a ver com o facto do aluno ser sujeito a uma qualquer repreensão assim como comunicação ao encarregado de educação, se para tal facto, der uma e uma só falta injustificada. Aqui aparentemente existe maior autoridade, mas é mesmo só aparente e já verão porquê, mas de qualquer modo, implica quintuplicação de papelada ... já estão a imaginar, uma falta, uma carta para casa,  com aviso de recepção ... imaginem este processo para quase 30 alunos, para quem tem duas direcções de turma, há que estender a ideia a 50 a 60 criaturas. Imaginem o processo dimensionado a toda uma instituição de ensino e para cada director de turma. Imaginem a celeridade do processo, quando as escolas não têm condições, por exemplo, dispõem de computadores lentos e obsoletos em que, só para lançar uma falta, se demora quase 15 minutos. Imaginem 7 ou 8 directores de turma, numa sala com uma mesa pequena e 5 computadores, 2 ou 3  com vírus, 4 que não reconhecem as pen's ... 1 mais ou menos funcional. Generalizem à realidade das escolas portuguesas, a maioria sem as condições mínimas de trabalho para os professores funcionarem no seu local de trabalho.  Este projecto-lei tem mais ideias mirabulantes, que pretendem conferir uma roupagem de suposta autoridade aos docentes. No fim, despe-se a pele da autoridade, desconstrói-se todo o processo. Então não é que, se os alunos ultrapassarem o limite de faltas injustificadas às diversas disciplinas (correspondentes ao triplo dos tempos semanais), serão sujeitos a um exame a essas mesmas disciplinas e que, na possibilidade de obterem uma avaliação negativa, isso não tem quaisquer efeitos na transição do aluno para o ano lectivo seguinte!!!! Pasmem-se mas é verdade, se os meus ouvidos correctamente escutaram. Com esta ideia, pretende-se pois, aumentar a autoridade dos professores e deduzo que, aumentar a responsabilização dos alunos, o seu empenho e o reforço na assiduidade. E já agora, convém não esquecer que, na iminência de um possível abandono escolar, é o professor o grande responsável, não são os pais, mas sim os professores. Veja-se bem até onde pode chegar a doentia maldade do nosso Ministério. Com esta medida, pretende-se então:

- aumentar o absentismo às aulas;

- aumentar o abandono escolar;

- prejudicar a avaliação dos professores, como resultado dos dois parâmetros anteriores;

- desautorizar ainda mais os professores;

- promover o laxismo e a irresponsabilidade dos alunos;

- massacrar ainda mais os professores com mais trabalho (elaboração de um exame por aluno que "inteligentemente" desista).

 

Confesso que, nos tempos que correm, se fosse aluno, pensaria duas vezes no assunto. Se não gostasse lá muito dos professores e de estudar, com certeza desistiria e depois fazia calmamente os exames. Parece impossivel, será que as ideias espectaculares deste Ministério não têm fim!!! Que falta de produtividade educativa!

 

                                                                                                                                      Brama

 


publicado por Brama às 20:24
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Código RVCC - Enigma ou Desenrasca

Mais uma acção de formação, neste caso mais uma reunião de tentativa de maior esclarecimento (achava eu), desta feita em Santa Maria da Feira, a 30 km do Porto e mais ou menos 600 km donde vivo. Saída segunda-feira depois das aulas da tarde; chegada terça-feira após a meia-noite, para iniciar serviço às 8h10 hoje na escola. Dispensa terça-feira?! claro que não, que ideia disparatada. Uma pessoa vai, numa lógica  quase auto-didacta e de salvação, em serviço por parte da escola, para esclarecer e melhorar procedimentos neste maravilhoso novo sistema de desocultar competências já adquiridas pelo pessoal adulto com prioridade na certificação rápida de competências que lhes permita ter já e já, em tempo record o 9º ou o 12ºano, porque o Ministério lança as ideias brilhantes mas não faculta a formação necessária e cada um, que se desenrasque como sempre, mas por nenhum motivo deste mundo se justifica dispensa de serviço lectivo. As aulas serão repostas escrupulosamente amanhã. A intenção foi boa, o resultado aprentemente esclarecedor, mas após análise que atenda à realidade de cada região e situação particular, não há efectivamente quaisquer possibilidades de seguir práticas comuns. A sessão de esclarecimento teve lugar na ANOP (Associação Nacional de Oficinas de Projecto), em Santa Maria  da Feira, que funciona a título particular com financiamento do PRODEP onde, ao que nos constou, os vários adultos são devidamente acompanhados por vários formadores ( vários para cada adulto), cerca de 7 horas por dia, 35 horas por semana. Evidentemente que são adultos que não trabalham, contrariamente aos nossos adultos, que terão as suas sessões na escola à noite, após um dia de trabalho e com muito menos horas. Por seu turno, os formadores são exactamente só e apenas isso, formadores naquela instituição, dedicados a tempo inteiro àquela prática e não, professores como nós, nas escolas, com todo o trabalho que todos nós sabemos isso implicar. De facto, apercebi-me que, para tudo funcionar num sistema quase perfeito, o acompanhamento aos adultos teria de ser muito superior e com todas as partes envolvidas no complexo processo de aplicação do tal famoso referencial o que, nas escolas públicas com este processo em andamento, é absolutamente impossivel, pelo menos naqueles moldes. O Estado tem a sua meta traçada, mais de um milhão de adultos certificados rapidamente, mas sem horas. O processo que nós deveríamos seguir é o mesmo, obedece ao tal referencial, mas o Estado não dá mais horas às escolas, porque não faz qualquer sentido. Lá estão eles, mais uma vez a pedir-nos as omoletes sem os ovos, contenção de despesas mas com esperados bons resultados. Lá vão os professores tecer mais uma rede de improvisos, alimentar ainda mais o tradicional  sistema do desenrasca e do faz de conta. É o Estado que assim quer.

Se o arrependimento matasse ... que arrependido em ter optado por esta experiência. O pior é que isto parece ser um processo sem fim à vista ... quanto mais situações se conhece, mais diverso é o leque de actuação e dos procedimentos. Pior, na mesma instituição as interpretações são distintas e por vezes opostas, conduzindo a práticas incoerentes. Uma animação. Uma coisa sei, já não participarei em mais sessões ou acções de multiplicação exponencial de dúvidas e de credos na mais brilhante invenção do Ministério que até hoje conheci.

 

                                                                                                                                    Brama

 

 

 

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publicado por Brama às 19:27
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Quarta-feira, 17 de Outubro de 2007

Ainda mexo ... mas pouco!

Não vou estender-me muito em blás blás ... tive um dia de escravatura no ensino e penso escrever uma carta ao Ministério a exigir o pagamento de horas extraordinárias. Neste momento, comprova-se, não sou docente, sou escravo num novo sistema feudal apurado, associado à crescente máquina neoliberal do século XXI, não propriamente em prol de uma sociedade mais rica, mais produtiva, melhor formada, mas sim, em prol de um conjunto de objectivos meramente estatísticos, de um corropio burocrático sem precedentes.

Entrei ao serviço, como todos os dias, às 08h10, tive aulas até às 13h10, almocei, às 14h30 iniciava aquele que já lidera como o momento de ouro do surrealismo na minha vida de ensino, uma reunião de RVCC - EFA's (durante a reunião pedi, em desespero de causa, que uma colega me beliscasse, não fosse eu estar morto há algum tempo e presenciar aquele mau momento do além). Após esta reunião, da qual saí, por volta das 17h, um pouco zonzo, iniciei outra às 17h30, correspondente à minha outra direcção de turma. Como não existem salas que suportem tanta gente (entre encarregados de educação e outros pais, alunos e todo o conselho de turma), a reunião decorreu mesmo no refeitório da escola, interessante claro, sobretudo porque à mesma hora decorriam actividades desportivas mesmo por cima de nós (onde é o ginásio), ouvindo-se frequente pontapear de bolas, ruídos bruscos, que juntando-se às diversas vozes que se ouviam em simultâneo, provocaram um verdadeiro festim auditivo. Esta reunião, presidida por moi même, terminou, passava pouco das 20h. Saí com a sensação de subito abalo e a precisar de uma rápida injecção de oxigénio. Como não tinha nada para comer em casa, optei por comer mesmo na escola e saí, passava pouco das 21h, 21h30. Feitas as contas às horas efectivamente gastas a trabalhar, somam-se quase 11 horas. Deveria vir logo para casa fazer a acta da reunião, mas não o fiz, grande malvado, a fugir ao trabalho. Os malandros dos professores tentam sempre furtar-se ao trabalhinho, grandes sacanitas. Se este fosse o ritmo diário, ao fim de cinco dias de aulas, trabalharía na escola 55 horas, fora todo o trabalho que, por falta de condições de trabalho no local de trabalho, ainda teria de levar para casa. Vejamos, mais 20 horas do que as efectivamente pagas ...isto é muito dinheiro.

Não é assim todos os dias, não é ... mas é quase. E garantidamente, se todos nós somarmos as horas de trabalho efectivo para a escola, excedemos largamente as 35 horas efectivamente pagas. Assim, não trouxe logicamente, nada para fazer para casa e no próximo fim de semana, voltarei a não fazer nada, há que seguir os normativos superiores e só trabalhar as 35 horas.

 

Quero ser um funcionário público igual aos outros, cumprir as minhas horas no local de trabalho e voltar para casa sem nada, para a minha vida pessoal.

 

                                                                                                                                             Brama

 


publicado por Brama às 22:40
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Segunda-feira, 8 de Outubro de 2007

Lurdecas Lopes !!!

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publicado por Brama às 20:16
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Controlando despesas e desburocratizando a Educação ...

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publicado por Brama às 20:09
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Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007

Uma questão de Papel!

T: _ Viste por aí aquele papel para assinar?

V: _ Qual papel?

T: _ Acho que é uma convocatória para uma reunião de quarta.

V: _ Sim, mas que reunião? de departamento?! de grupo?! ou será a dos CEF's?

T: _ A de departamento claro, eu tenho lá isso dos CEF's.

V: _ A funcionária do PBX é que a tem, mas agora não está aí. Já sabes das tuas reuniões?

T: _ Quais reuniões?

V: _ As de encarregados de educação! Não viste o papel afixado no placard?

T: _ Onde? Mas essas não são só para o próximo mês? Vai ser feita uma reunião antes, com os directores de turma.

V: _ Não, parece que não e começam já na segunda. Convém que envies os comunicados a convocar os pais.

T: _ Então mas hoje é sexta ... vá, deixa-te lá de brincadeiras. E onde estão os comunicados? Ainda ontem a coordenadora disse que ía tratar disso.

V: _ Pois olha, eu tenho só na terça, os comunicados estão ali nos cacifos das turmas, vai já tratar disso, preencher e fotocopiar pelo número de alunos. e entrega-lhes.

T: _ Mas se já nem vou ter aulas com eles. Onde é que está afixado esse papel? E o guião, onde está? não era suposto existir um guião?! Bem, eu nem sei ainda o que devo fazer. Tenho a lista de alunos, o horário da turma,  o documento entregue aquando dos conselhos de turma iniciais, os planos de recuperação do ano passado, cópias das actas de reunião,  falta-me o esboço da acta, tenho a listagem de presenças dos pais. É verdade! terei de levar também uma cópia da acta de reunião inicial, não é?

V: _ Pois convém. O guião ainda está a ser elaborado.

T: _ O quê? está a ser elaborado como? Então se dizes que as reuniões começam segunda ... onde é que está o papel afixado?

V: _ Está aqui um e outro lá em cima na sala de professores.

T: _ Ai meu deus, eu tenho a primeira e é segunda. E a minha outra direcção de turma? 

V: _ Vá acalma-te lá. O guião ainda não está feito, mas é bom que para além do que referiste,  leves o calendário escolar, uma breve caracterização da turma ( há uma grelha para isso), a relação de professores e disciplinas, o regulamento interno para eventuais esclarecimentos, a Lei 30/2002 que aprova o estatuto do aluno não superior, é aconselhável que tenhas também contigo o Projecto Educativo da Escola e, se já tiveres contigo critérios de avaliação nas várias disciplinas e planificações de longo e médio prazo, leva também.

T: _ Só podes estar a brincar certo! Como é que eu trato de tudo isso agora? Vou ter a tarde cheia de aulas e agora tenho pouco tempo para tudo isso. e ainda nem tenho o tal guião, isto é de loucos. E os colegas todos também vão lá estar certo?

V: _ Sim ... e os alunos também, não te esqueças, faz parte do plano de melhoria da escola. Por falar nisso, não te esqueças também do plano de melhoria, pode ser preciso. agora devias ir já tratar dos comunicados e pedir uma cópia da acta de reunião inicial.

 

(Nisto entra a funcionária com a convocatória da reunião de departamento)

 

F: _ Professora T desculpe, tem aqui esta convocatória para a próxima quarta e este documento é para os senhores professores lerem para a reunião.

 

(A professora T olha para um calhamaço de 60 páginas e naquele momento sente que gostaria rapidamente de evadir-se para uma serena praia das Caraíbas, de mar azul turquesa, onde estivesse deitada numa rede a beber água de coco).

 

 

Sinto-me defraudado, quando me formei ninguém me explicou que isto era para os "apanhados", fui enganado porque ninguém me explicou que ia se burocrata, secretário, acompanhante, psicólogo, vidente ( a parte de desocultar competências), "pai", palhaço, malabarista, otário ... , tudo isto e muito mais, tudo menos professor. Nã haverá aqui uma inversão de "papéis"?!

 Este diálogo criado passa-se todos os dias, pelo menos, na escola pública. E ... (vou dizer a coisa mais incrível que já disse), tenho uma certa saudade de estar na sala de professores  a falar dos alunos e da indisciplina destes, fotocopiar materiais pertinentes sobre a minha disciplina ... assim coisas mais proveitosas no fundo. E tenho saudade, não por ser masoquista, não ... tenho saudade porque isso significava que no meio de tudo isto, existia uma certa dimensão humana no ensino ... afinal não lidamos com jovens que passam pela difícil e complexa fase da adolescência?! Neste momento conversas sobre alunos (o suposto produto do nosso trabalho) e sua indisciplina, não existem. Esta  de facto existe ainda, os professores é que não estão ocupados dela, porque não têm espaço para tal. O professor ideal do momento será alguém tão infinitamente só no mundo, sem família e amigos e com objectivos de vida tão limitados, que possa dedicar-se em exclusivo à escola. Quando estiver na escola dedica-se alegremente (para passar uma boa imagem conducente a uma boa avaliação) à parte burocrática que seria função de tantos outros profissionais; já em casa, trabalha até altas horas na preparação da parte lectiva, que ficou pendente por falta de tempo no seu local de trabalho, multiplicando horas extraordinárias não contabilizadas nem pagas, levadas a cabo apenas por um imenso amor à camisola, que nem já se traduz em mudança de escalão. A parte boa da questão é para congelar. Eu, como me reservo o direito de ter vida própria (essencial ao meu equiíbrio, cada vez mais débil),  tenho-me esforçado por desenvolver interesses divergentes dos escolares, que também mereço. Sim ... eu sei, eu sei que sou ousado em dedicar-me a outros interesses para além da escola ... mas é uma questão de saúde pessoal e até pública.

 

                                                                                                          Brama                               

 

 

 

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publicado por Brama às 20:26
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Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007

Diálogo possível ... mais uns anitos!!!

Claro que muitos poderão rir, troçar, ou observar este absurdo diálogo como impossível por ser totalmente desprovido de sentido. Eu já não sei ... também há alguns ... poucos anos, observaria com algum espanto certas ideias, absolutamente anedóticas e ilógicas ... mas, hoje a pouco e pouco vão sendo uma realidade ... e no ensino, no ensino meu deus, ideias sem nexo e sem sentido algum, surgem como cogumelos para serem levadas à prática ... enquanto se tiver como objectivo as estatísticas europeias no âmbito da educação, o nosso lugar nesse ranking ... e se apostar menos em efectivas, sólidas, proveitosas e produtivas aprendizagens ... penso que, paralelamente à subida do sucesso educativo, também dispara  o lugar que ocupamos na estupidez e na ignorância, bem como, na  propria irresponsabilidade.

 

A cena tem lugar no contexto de uma acção de formação dirigida a professores e formadores intitulada: " RVCC e Novas Oportunidades para os Adolescentes"; é um diálogo entre uma professora de língua portuguesa do 3ºciclo (P) e uma especialista na área da formação de adolescentes (E), responsável por integrar a equipa de peritos que formularam o referencial que conjuga todos os aspectos essenciais, transversais e específicos a levar à prática num processo de reavaliação e certificação de competências para um público-alvo, os nossos jovens adolescentes, o futuro deste país. 

 

E:_ Devo dizer-vos que  ... e após a apresentação do nosso referencial e do papel que vos compete em abraçá-lo como educadores que são, este referencial tem surtido bons frutos em algumas escolas-piloto dispersas pelo território nacional e ... parece quanto a mim, um feliz seguimento da experiência absolutamente positiva que tem sido o processo RVCC de adultos, que conquistou muitos adultos perdidos por este país e trouxe-os de novo à escola. Se a extensão do nosso projecto aos adolescentes reforçar ainda mais o sucesso escolar já obtido, faremos tudo para estender todo o processo às crianças em idade de amamentação.

 

      (Ouvem-se aplausos na sala da sessão de esclarecimento)

 

E:_ E agora, antes de fazermos uma pausa para café, que vocês já precisam ... e antes de retomarmos para a parte prática, em que, em grupinhos pequenos de 10 a 15 professores e formadores, analisarão o caso da adolescente Rebecca e da sua história de vida muito complicada, mas cheia de competências a certificar ...  claro. A seu tempo darão conta que esta menina tem três irmãos, o que nos dias de hoje é complicado, sobretudo ao nível da partilha e das competências práticas que em prol disso foram desenvolvidas. Bem ... e como estava eu a dizer, antes da pausa, gostaria ainda de, muito brevemente, responder às vossas dúvidas. Alguém precisa de algum esclarecimento?

 

     (A professora de língua portuguesa ergue a mão)

 

P:_ Eu gostaria que me esclarecesse alguns aspectos se fizer favor.

 

E:_ Sim, diga, diga por favor.

 

P:_ A senhora falou dos diversos aspectos considerados no referencial e que deverão ser aplicados ... as competências e assim, mas fico sem perceber como avalio os alunos?! O que é que devemos fazer? fichas de trabalho ou testes de avaliação? trabalhos práticos?

 

E:_ Por favor, não me leve a mal, corrija esse hábito profissional. O jovem não é seu aluno, mas sim um adolescente. A senhora não é professora mas antes, uma profissional ou, em alternativa, formadora. É assim que devemos começar antes de mais, ok?!

 

P:_ Então, como serão avaliados os adolescentes?

 

E:_ Como já tinha referido, esses elementos de avaliação tradicionais aqui não têm lugar, são ultrapassados e podem demover os nossos adolescentes à frequência que nós esperamos. Eles têm apenas de ir às aulas e escrever a sua história de vida. Como sabe melhor que ninguém e enquanto profissional, eles têm muitas potenciais capacidades e competências que eles próprios desconhecem. O seu papel é tão somente desbloquear essas competências, desobstruí-las entende?!

 

P:_ Mas isso serve para um ano lectivo inteiro? E qual o meu papel enquanto docente da disciplina de língua portuguesa? Eles escrevem a sua história de vida e já está?! E como é que eu sei que eles estão à altura de terem a equivalência ao 9ºano por exemplo?

 

E:_ Vamos com calma, por favor, uma questão de cada vez.. Não tenha a pretensão de saber logo tudo. Durante o ano, o adolescente vem matricular-se que é a parte mais complexa porque é o passo mais importante, trazer o adolescente por sua iniciativa à escola já é de evidenciar positivamente e meio caminho andado. Depois, o adolescente será submetido a várias entrevistas, para que se averigue as suas reais necessidades e desoprimir as suas competências ... neste processo o adolescente deverá sentir-se acarinhado e amado pelos seus formadores, num ambiente calmo, receptivo e arejado e  atenção, muita atenção ... nunca deverão recusar nenhum candidato porque ele, sabendo de eventuais facilidades noutro centro ... já sabem como são as coisas.

 

P:_ Sim, mas depois desse processo inicial?

 

E:_ Tenha calma ... depois o adolescente escreve a sua história de vida e não esquecer, muito, muito importante, deverá sentir que está à vontade para expôr tudo o que entender como importante e significativo na sua vida até então ... isso só se consegue com um ambiente verdadeiramente acolhedor.

 

P:_ Mas isso não é feito em alguns dias?!

 

E:_ Calma, tenha calma, este processo não é assim tão simples, demora o tempo que for necessário ao adolescente, cada um tem o seu ritmo e isso há que respeitar, como sabe a autonomia na gestão do tempo é um dado a valorizar. E é um processo vivo e dinâmico, a qualquer momento pode ser remodelado, acrescentado e isso é fundamental para desocultar novas valências.

 

P:_ Então os jovens vão passar os primeiros tempos a construir o seu historial.

 

E:_ Exacto ... mas não diga jovens, opte antes por adolescentes, é mais preciso para os nossos propósitos. A história deverá ser elaborada como se fosse um portefólio. Aqui deverá ocupar logo um bloco de 90 minutos, está a ver?! na explicação do que é um portefólio, como se constrói e para que servirá.

 

P:_ E depois?

 

E:_ Ó minha senhora, tem de ter mais calma ... leve as coisas com ligeireza, porque vai ver que vai conseguir ser óptima profissional de RVCC de adolescentes. Eles só têm de se sentir acarinhados.

 

P:_ Eu estou calma, mas de facto sinto-me um pouco perdida ... não consigo perceber como vou ocupar tantos tempos semanais com um simples processo destes ... não quero correr o risco de não ter como ocupar o tempo. Além disso, que lugar acaba por ter a língua portuguesa que lecciono em todo o processo?

 

E:_ Esqueça a língua portuguesa agora ... aqui não é professora, é uma profissional de RVCC. De uma vez por toda apague a formatação de anos e anos de maus hábitos. A senhora não vai dar língua portuguesa ... vai trabalhar em equipa na aferição de competências, 'tá a perceber?

 

P:_ Acho que ... pois talvez. Mas porque diz que são maus hábitos?

 

E:_ Não se sinta ofendida, não estou a colocar em causa as suas qualidades profissionais ... quando me refiro a maus hábitos pretendo apenas frisar o aspecto de que os modelos professados ao longo de décadas e décadas não se têm afigurado proveitosos. Afinal incentivaram a indisciplina, a abstenção, o insucesso. Pense bem, é isso que a senhora pretende para os nossos adolescentes? Claro que não ...

 

P:_ Bem, acho que me sinto um pouco baralhada. Confusa talvez.

 

E:_ Está a ver como este processo não é assim tão simples e acessível. A senhora que será profissional de RVCC sente-te confusa, imagine agora os nossos adolescentes, imagine com aquela idade como se sentirão ... que lhe parece?!

 

....

 

E assim foi ... a conversa continua mas ... penso que poderá ficar por aqui interrompida. Eu estou a pensar em não me mexer para fazer nenhum mestrado ou doutoramento. Ficarei à espera que, quando todos os habitantes deste país forem licenciados, exista um RVCC para licenciados, no sentido de desocultar as competências já adquiridas e assim obter um mestrado sem grande esforço e claro ... já agora, sem pagamento de propinas que isto de ser professor não permite desocultar mais euritos.

 

                                                                                                       Brama

 

 

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publicado por Brama às 23:51
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Terça-feira, 25 de Setembro de 2007

Horários inspeccionados ...

 

escola, crianças,escalando. fotosearch- busca de fotos,imagens e clipart 

                                               (Imagem retirada da Internet)

 

Mais uma brilhante notícia a ajudar mais um pouco a vincar a má imagem que já passou para a opinião pública sobre os professores, imagem protagonizada pelo ministério que nos gere  ... desta vez tem a ver com os horários e mais uma vez são as criancinhas que ficam lesadas ... coitados dos nossos alunos, sofrem tanto, mas tanto ... coitadinhos.

Desta vez, concluiu-se que vários horários por este país fora não estão conformes com a lei, há muitas turmas com furos entre os tempos lectivos, o que é quase um crime sério, porque os nossos meninos nunca deverão ter, sob qualquer motivo, horários com furos ... jamais. Também há turmas que iriam padecer com cerca de oito tempos diários, o que é inadmissível, esse desgaste a existir só poderá cair sobre as mulas dos professores ... que não querem fazer mesmo nenhum.

Pronto, cá está ...foram os malandros dos professores que cozinharam estes horários para se furtarem ao trabalho, ai que grandes malvados ... continuam a não querer fazer nada, mesmo com estas medidas todas  ... (será o que o pessoal em cada uma de suas casas pensará com toda a certeza, porque é a imagem que se tenta passar).

Agora pergunto eu, porque de facto, durante estes anos todos ainda não percebi: não é suposto os alunos passarem mais tempo nas escolas com os professores a servirem de acompanhantes ou amas (a palavra acompanhante soa mesmo mal ...)?!não é suposto os alunos utilizarem mais os serviços de biblioteca, todo o material científico e pedagógico deixado à sua disposição na escola para trabalhos de pesquisa ?!

Não percebo que mal pode ter um furo ou outro no horário ... afinal com esses tempos até podem descansar um pouco, fazer uma paragem entre as aulas, conviver uns com os outros, ir à biblioteca, comer no bar dos alunos, pedir algum tipo de ajuda ou até conviver mesmo com alguns professores ... titulares claro, porque são os que têm menos carga ... os outros estão a divertir-se nas montanhas de papéis de direcção de turma, PCT's, planos disto e daquilo, relatórios disto e daquilo, questionários disto e daquilo, grelhas disto e daquilo, comunicados disto e daquilo, planificações disto e daquilo ... papelada com fartura, mas não da que nos daria com toda a certeza mais jeito.

Se os alunos passam o tempo enfiados no espaço de aula, onde fica o espaço para um desenvolvimento mais autónomo do seu trabalho?!

Por outro lado, as equipas que procedem à elaboração dos horários sabem com toda a certeza como é difícil articular todo aquele quebra-cabeças ... é absolutamente horrível. existem cursos com uma carga horária tão grande, que conseguir que os alunos não tenham oito tempos seguidos é um feito genial, isto claro, sem prejudicar outras turmas que entretanto também precisam de um horário compatível com as suas necessidades e interesses. É absolutamente anedótico este tipo de notícias que vêm a público ... sugiro então que o entendido ministério da educação arranje mais umas equipas, de preferência lá da sua cor política, qualquer que seja, tanto faz ... a desgraça é mesmo sempre igual ... assim umas equipas de peritos altamente qualificados em fazer horários para que venha logo tudo perfeitinho e não haja perdas de tempo em início de ano escolar com dezenas de reformulações de horários e claro ... para que não se perca depois mais tempo com inspecções de horários e dinheiro também ... há que continuar a caminhar em prol de uma sagaz contenção de despesas ... que é lá isso, gastar dinheiro com inspectores se o nosso ministério querido pode até passar o mês de agosto a fazer milhares de horários para a professorada ... arranjem, porque não um qualquer programa daqueles que engatou a colocação de professores há quatro anos atrás e os colocou tardiamante ...talvez com um pouco de sorte, os horários estejam lindos e maravilhosos, prontos a entrar em funcionamento a partir de Janeiro e até lá, os professores fazem umas camisolinhas de malha e uma rendinhas para os seus queridos alunos vestirem no rigoroso inverno ...tudo na sala de professores de agulhas na mão, não acham ternurento?

Esta camisolinha verde alface é para a minha Miriam Cátia do 7ºB, coitadinha ...ela escreve pouco mais que o nome próprio, embora nunca o consiga fazer da mesma forma duas vezes seguidas, mas este ano vai transitar nem que eu tenha de espancar alguns colegas em conselho de turma, ela não pode ficar eternamente no sétimo ano, já é a terceira retenção e este ano a minha avaliação pode ficar prejudicada ... além disso a mãe da Miram Cátia já disse que não consegue fazer nada dela em casa e se ela não transitar este ano, vai fazer queixa à direcção regional porque outra retenção pode traumatizar a menina ou macerá-la mesmo ... gostam da camisolinha da minha menina?

 

                                                                                                                                 Brama

música: talesmaker blog music
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publicado por Brama às 15:16
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Sábado, 15 de Setembro de 2007

Não macerem as criancinhas ...

DR (foto retirada da internet)

 

Aqui temos a nossa fofinha Ministra ... hoje fiquei sensibilizado, confesso. A nossa querida está preocupada com a retenção dos alunos no primeiro ciclo do ensino básico. Segundo esta querida, a pilita de ouro vai paaara ... os professores que consigam reunir esforços para não reter os meninos, situação que os votaria a uma discriminação horrível e traumatizante logo em tenra idade, podendo ter os seus nefastos efeitos no futuro desenvolvimento enquanto pessoas. A criança deve ser encaminhada a transitar logo que possível para que não sinta rejeição ... é profundo  deixem-se lá de coisas. Segundo a Ministra, é mais difícil aprovar os alunos do que retê-los, já que a segunda hipótese significa desistência por parte do docente. Vê-se mesmo que há uma ignorância extrema da realidade, bastaria estar presente em alguns conselhos de turma para perceber que é muito mais fácil aprovar os meninos uma vez que aprovar não implica justificar, mas reter obriga a mais relatórios e claro ... a uma mortandade silvícola maior. E já agora, aproveitando as boas intenções desta querida, será que não poderia reduzir os programas ...  sei lá ... auxiliar os professores, com menos alunos por sala ou menos anos/níveis, ou mais materiais apropriados. A ideia da omolete tem graciosidade, mas quer dizer ... os professores têm em mãos apenas a frigideira e está quente ... e parece que só o Messias tinha o milagre da multiplicação.

                                                                                                               

                                                                                               Brama

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publicado por Brama às 05:23
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Quinta-feira, 13 de Setembro de 2007

Antes e Agora ...

A Escola de Antes!

 

 

 

A Escola de Agora!

 

 

                                                                                                                       (Fotos retiradas da Internet)

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publicado por Brama às 01:25
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Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007

Brilhantes descobertas!

Ainda a respeito do regresso às aulas e no decurso da reunião inicial de apresentação de docentes em que estive presente, foi também assunto abordado a  inovação que terá lugar na escola, já neste ano lectivo, a nível da qualidade e educação alimentar. Apesar de eu considerar a alimentação confeccionada na escola de muito boa qualidade, diversificada e o refeitório bastante higiénico, parece que, segundo os entendidos as coisas não vão nada bem pelas escolas. Os meninos insistem em não se alimentar nas cantinas escolares, preferindo deslocar-se ao bar ou pronto-a-comer mais próximo e deglutir uma sandocha qualquer ou um hamburguer carregado de ketchup e maionese e beber uma valente coca-cola a transbordar de gás, gastando para o efeito, três ou quatro vezes mais dinheiro, do que gastariam com a refeição completa servida pela escola. Nesse sentido, foi-nos apresentado pelo executivo da escola, um técnico ou engenheiro qualquer, perito nas questões que se prendem com a educação alimentar, que nos traçou um quadro maravilhoso de como seria a nossa alimentação a partir de agora. Parece que quase não haverá repetição de pratos ao longo de cada período, todos os ingredientes alimentícios estarão mais que contemplados, servidos nas quantidades calóricas exactas e igualitárias entre professores e alunos, morte total aos fritos, os grelhados e os cozidos terão lugar cativo. A escola deixará de ter um refeitório, passando a ter um restaurante escolar. Até aqui tudo bem, o pior foi a seguir em que fiz descobertas absolutamente extraordinárias, que jamais haveria imaginado.

 

Após uma ingénua pergunta ou sugestão feita por uma colega no sentido de existir a possibilidade de passarmos a ter alguns pratos vegetarianos, o senhor ficou um pouco atrapalhado e perdeu completamente a linha de raciocínio já memorizada e mecanicamente pronunciada ... viu-se logo que não era docente, só os docentes têm a capacidade de contornar questões mais delicadas, improvisando uma resposta no momento que, simultaneamente esclareça minimamente quem ouve e não afunde quem o diz.

Fiquei então a saber que não era possível haver pratos vegetarianos porque, segundo o perito "o Homem é o único mamífero que mama depois de adulto". Como se não bastasse ter-se enterrado até ao pescoço,  por fim lapidou-se, acrescentando "...sobretudo as mulheres." Perante a algazarra gerada na sala, o senhor ficou visivelmente embaraçado, mas não desfez a sua observação. Assim que, confiando no perito, eis que descobri outra particularidade única do ser humano face aos demais, além da suposta racionalidade.

Fiquei também com a pertinente informação de que qualquer criança, entre um bollicao e um pão de quilo com manteiga, deverá optar imediatamente pelo segundo, muito mais saudável e menos calórico?! Pois .... não sei se sim , se não, mas se o senhor o disse... quem sou eu para discordar?! Fico à espera das inovadoras maquinetas em que os alunos ao colocarem moedinhas receberão em troca um quilo de pão acompanhado de um pacote de manteiga e ... já agora, uma arma branca, para barrar a manteiga no pão.

Outra novidade foi a de que, com a refeição que será servida diariamente na escola, seguindo escrupulosamente as quantidades alimentícias precisas e com as calorias certas, qualquer aluno ou professor, só necessitará de beber pela manhã um simples copo de leite e à noite, não deverá jantar, limitando o seu estômago a uma pecita de fruta, coisa leve. E eu que até agora pensei, porque me tinham dito, que deveríamos comer poucas quantidades de comida e diversificadas ao longo de vários momentos do dia, que seria o mais correcto. Portanto, professores e alunos deverão limitar-se a uma única refeição diária, precedida de um copito de leite matinal e seguida de uma singela peça de fruta ao anoitecer.

 

No meio de toda esta surreal explicação, observei com alguma atenção a roliça barriguinha do senhor, deixando antever os seguros preceitos alimentares e a rígida quantidade calórica ingerida.

 

                                                                                                                       Brama

 

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publicado por Brama às 22:49
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Escola ... o Regresso!

Confirma-se ... já nada é o que era ... a vontade é diferente de outrora, quiçá pela familiaridade que também existe e pela pouca novidade ... pode ser isso. Dia de tortura a provar que as escolas estão a transformar-se no sonho da nossa querida ministra educativa, autênticos campos de batalha e desnorte completo e poucos momentos de boa disposição ... a minha escola talvez ainda consiga manter a frescura dos sorrisos mas a tensão é diferente. Brindado com quatro reuniões de rajada, a de apresentação de todos os docentes, com cinco ou seis novidades apenas, mostrando a estabilidade do corpo docente do momento, a de departamento, seguramente a mais leve do ano por também ser a primeira, seguida da reunião dos novos cursos da noite, RVCC's e EFA's, coisas novas e hilariantes em que me senti membro do gado azinino ou docente a precisar urgentemente de necessidades educativas especiais e apoio pedagógico acrescido. Depois o glorioso almoço, sim ... glorioso, porque com tantas sensações, o estomago já estaria noutro local que não o inicial. E de tarde, a majestosa reunião de directores de turma. Quatro reuniões à pressão para receber a cambada de malfeitores incompetentes, para os entreter e ver se acabam com a palhaçada de andarem na brincadeira das escolinhas, tudo num dia e depressa, porque a seguir vêm já os conselhos de turma iniciais e outras coisas mais, e planificações e critérios e materiais para as aulas da prmeira semana, cujos colegas possam faltar. e começar já a pensar em actividades extracurriculares e  ideias para os projectos curriculares de turma e ler de enfiada o regulamento interno da escola, não vá o diabo tecê-las e ainda ler durante os proximos dois dias, duas bíblias de documentação relativa ao RVCC e preparar já e a correr, os dossiês de direcção de turma e as reuniões de direcção de turma e as aulas, as primeiras do ano, e os materiais e outras coisas mais ... papéis, muitos papéis e muita confusão, sobretudo isso que é o que o nosso ministério quer, muita confusão, muita loucura e diversão entre os docentes, reuniões sobrepostas, quebra -  cabeças na formulação dos horários,  fórmulas psicoticas e maquiavélicas de pôr o pessoal a mudar de humor de cinco a cinco minutos, que é para ver se enlouquecem uns quantos de vez e saem do sistema dando lugar a outros que ainda consigam resistir sem sucumbir ... sim, para quem não sabe, as escolas do momento não deverão diferir muito de qualquer centro de acolhimento de indivíduos com elevadas perturbações mentais ... o ministério conseguiu o que queria efectivamente, palmas para eles. Parece que o estado de humor na recepção dos alunos no início do ano lectivo é que poderá não ser o melhor ... afinal espera-se uma infinitude de coisas a elaborar ainda antes de o ano lectivo começar ... e claro, com a pressão de uma competitividade que já se insurge pouco a pouco, afinal está aí a avaliação, convém mesmo o pessoal se possível não ter vida própria, nem comer, nem dormir, nada disso ... são necessidades supérfluas ... há que produzir muitos, muitos papéis, quantos mais melhor, para ver se f****** de vez o planeta ... ainda há oxigénio, há que acabar com ele de vez e com as fontes de água, matar o pessoal à sede e já que temos aquecimento global que rebente de vez para não haver meio termo. Esta demência que a pouco e pouco anestesia a professorada parece que veio para ficar e creio que deverá ser situação única a nível mundial, caso de estudo sério. Talvez só no Japão se trabalhe desta forma, mas claro está, eles trabalham mesmo para obter sucesso real, nós trabalhamos para cansar os professores e no fim, quando tiverem a língua de fora e já não aguentarem mais, poderem transitar todos os alunos, sem se queixar nem reclamar.

Mas voltemos ao início que o propósito não era bem este ... cá está outro mal de que sofre a professorada, são tantas e tão díspares as decisões em simultâneo que é normal uma conversa entre dois docentes começar por alegremente perguntar como foram as férias e acabar com uma gritaria imensa sobre o PCT ou em que turma colocar a nova aluna que veio agora do Burkina Faso e nem ela nem os pais falam outra língua que não seja um qualquer crioulo conseguido por mímica e espirros, mas que mais uma vez será tarefa dos professores arranjar a linguagem e as estratégias necessárias.

Entrei eu para a reunião geral de todos os professores, fui recebido com amor por todos, amado e desejado visceralmente, qual personagem principal do "Perfume" de Patrick Suskind. Beijos e abraços de todos os lado, não chego para as encomendas. Olhei em redor e apesar de genuina e verdadeiramente gostar de muitas daquelas pessoas, sinto sempre a mesma sensação estranha de que, não é ali o meu lugar ... mas também não sei onde é. Onde será o meu lugar? É uma questão que me coloco a mim mesmo todos os dias sem obter uma resposta concreta ... algo que me deixe mais calmo e sereno. gostava de ser e fazer tanta coisa, será um capricho infantil querer viver outras vidas?! sentir todas as emoções que é possivel sentir e viver?! parece que nada de novo ali existe e me preencherá. Sinto-me tão diferente de todas aquelas pessoas, parece que nem pertenço à sua espécie ... será uma pretensão minha sentir-me assim tão diferente?! será que sou mesmo?! será que cada uma daquelas pessoas também olha em redor e sente o mesmo que eu?! será que eu penso demais sobre coisas sem fundamento?! Não sei ... sei que me sinto diferente daquele universo de gente ... não melhor ... não pior ... apenas diferente, tão diferente que acabo por me evadir continuamente e pairar noutras latitudes ... abstrair-me daquele momento ... achar que nem existo e penetrei em território desconhecido por mera casualidade, ninguém me vê, mas eu estou lá a presenciar aquela situação.

E assim foi ... entre a boa disposição aqui real, ali social ... lá fui observando os novos colegas ... riam desconfortavelmente por estarem em território também estranho, mas apesar de tudo, quase que apostaria que pertenciam mais àquele território do que eu, que o conheço melhor. O meu humor ficou ligeiramente distorcido quando me apercebi que iria ter duas direcções de turma do terceiro ciclo, que nos dias que correm não são pera doce e que num universo de 100 docentes, era o único nessa situação. Não poderia ser mais cirúrgico ... fiquei radiante pelo tiro certeiro ... depois compreendi que tinha sido a única possibilidade de ter horário completo, masss .... duas direcções de turma do terceiro ciclo, nos dias que correm é verdadeira dose de cavalo... vamos ver se resisto.

 

                                                                                                              Brama

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Terça-feira, 4 de Setembro de 2007

Mais um lamentável caso!

A propósito de mais um polémico caso de uma professora vítima de cancro, parece que foi inicialmente detectado à senhora cancro no peito, mais tarde no útero e agora na boca. Ao longo de todo este processo, que imagino angustiante e sofrido por si só, para a pessoa em causa, amigos e familiares, a referida professora tem tentado, sem sucesso, pedir reforma antecipada pois, como qualquer pessoa de bom senso deverá calcular, não se encontra em condições de retomar funções e assegurar tudo o que se exige numa escola, especialmente estar capacitada para leccionar a várias turmas.  Esta situação não é nova, outros recentes casos têm sido do conhecimento público, casos esses com um desfecho infelizmente triste e desumano. Um Estado que não age no sentido de garantir a salvaguarda e protecção dos seus "filhos" e os deixa morrer lentamente sem os poupar a um sofrimento ainda maior, que os destrata desta forma absolutamente desumana como se fossem números e não pessoas, que lamentavelmente expõe com clarividência não respeitar o primordial valor da vida de cada um, nem valorizar o contributo efectivo dos trabalhadores nesta sociedade, não creio ser merecedor de qualquer consideração ou respeito por parte de seus cidadãos. Pode ser que se faça jus ao ditado associado àquela entidade de que toda a gente gosta muito e  que então, "Deus efectivamente escreva direito por linhas tortas." 

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publicado por Brama às 23:10
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Segunda-feira, 3 de Setembro de 2007

É verdade ... sou professor!

professor, salaaula, retrato.fotosearch - buscade fotos, imagense clipart (Imagem retirada da Internet)

 

Não ... não sou a pessoa acima apresentada e nos dias que correm, faço um esforço sobrehumano para manter ou conseguir um tão rasgado sorriso de quem ainda acredita em alguma coisa. Quando comecei, o meu sorriso era mais ou menos aquele, achava que tinha uma missão, que iria ensinar coisas lindas, contribuir para uma efectiva melhoria dos jovens enquanto pessoas, insisti algum tempo apesar das adversidades de toda a ordem, insisti muito mesmo, mas estou a esgotar as minhas munições. Os sucessivos governos e as sucessivas medidas das diversas classes ministeriais que nos gerem, têm contribuído sistematicamente para desvirtuar as minhas expectativas enquanto profissional da educação. Quando iniciei, juro que pensei que iria ser professor, no meu conceito de professor claro. Ai santa ingenuidade ... parece que o conceito varia bastante, já deu para perceber que no entendimento dos supostos peritos na matéria, ser professor funde-se com toda uma panóplia de outras funções que fazem esquecer a finalidade da minha licenciatura, mas que infelizmente não se multiplicam de igual modo em termos financeiros ... muito estranho. Será que os professores não precisarão também de algum incentivozinho, sei lá, alguma espécie de reforço positivo ... não é isso que nos ensinaram a fazer com os nossos alunos, mesmo quando eles abertamente nos ameaçam verbal ou fisicamente, do género "Vá lá menino, não cause mais hematomas no bracinho do seu professor, ele promete retirar-lhe as faltas injustificadas e já não envia mais comunicados à mãe e ao pai dizendo que o menino agride e ofende os professores." ou então, "Luísa, se voltar a morder a professora de Física e Química e chamar-lhe p*** mais alguma vez, terei mesmo de chamar cá o encarregado de educação e deixarei de lhe passar o tpc no caderno." Estes exemplos poderiam ser exagerados, mas nos dias que correm já não o são, espero pelo menos que sejam raros na generalidade dos nossos estabelecimentos de ensino. Pois é ... ser professor é hoje em dia uma verdadeira prova de fogo e de elevado masoquismo. Amanhã recomeço mas já lá vai o tempo em que o fazia com uma motivação extrema, não que tivesse motivos para, simplesmente porque ainda acreditava poder mudar a desordem, mas sozinho contra o sistema não dá mesmo. Como se já não bastasse a coisa estar péssima, eis que hilariantes medidas totalmente incentivadoras irão ser postas em prática a partir deste ano lectivo, todas conducentes  a um real sucesso das práticas de ensino-aprendizagem. Será que eles crêem estar os professores motivados e felizes neste recomeçar? Penso que a educação passou a ser mais um mito nacional ... será o descambar completo de um sistema que já não tem pés de barro, mas de areia e que eu, pelo menos, já perdi a capacidade de abraçar como antes.

 

                                                                                                                       Brama

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publicado por Brama às 12:22
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Sexta-feira, 10 de Agosto de 2007

Objector de Consciência no Ensino !

Numa altura em que estamos prestes a iniciar um novo ano lectivo cheio de aspectos agradáveis e altamente motivantes para os professores que sempre se empenharam em ser verdadeiros profissionais nestas questões, tenho pensado e até trocado umas impressões acerca da possibilidade ou não de fazer uso da objecção de consciência na questão da avaliação de professores.

Esta questão ganha dimensão quando se compara, por exemplo, com a recente polémica dos médicos que são objectores de consciência na questão da realização de abortos. Num momento em que o sim ganhou no referendo à despenalização voluntária da gravidez, alguns profissionais da saúde, alegando princípios e valores pessoais (que não é propósito discutir), continuam a não realizar abortos, o que pode ser justificável se, posteriormente não o fizerem a nível privado, correndo o risco de cairmos aqui numa contradição de princípios. E porque não dar a mesma liberdade aos docentes que vão ter o tal estatuto nobre e segregante de titularidade, quando se trata da questão da avaliação dos colegas de trabalho, meros e singelos professores, já para não falar dos outros, aqueles que por serem reles contratados, nem professores são, os pomposamente designados “candidatos a professor”?

Alguns dirão já, sobretudo quem está fora do ensino e da forma meticulosamente perversa como foi “cozinhada” a fórmula mágica a pôr em prática na avaliação de desempenho profissional dos docentes, que não entendem o porquê de tão grande alarido com esta questão, se afinal noutras profissões a avaliação é uma prática corrente e até benéfica para as aprendizagens e a melhoria profissional. Outros até consideram muito positiva esta avaliação para que os professores, esse bando de gente malfeitora e preguiçosa que “falam de barriga cheia”, que só têm privilégios, muitas férias e não fazem nada, comecem finalmente a fazer; estes são os tais que não sabem mesmo do que estão a falar e a maior parte das vezes, generalizam um ou dois casos flagrantes de demissão profissional a toda a classe de profissionais do ensino.

A fórmula usada para avaliar os professores assume um carácter pernicioso no aspecto em que não pretende premiar quem realmente se preocupa com a qualidade e o rigor das aprendizagens dos alunos pois, como generalizadamente se sabe, o bom professor é aquele que por norma também é mais exigente consigo e por arrasto com os resultados reais de quem está à sua frente … neste momento o professor mais exigente terá tudo contra si, pois será penalizado pelos baixos resultados dos seus alunos (se for o caso, claro) e pela avaliação dos pais, que como se sabe, hoje em dia vêem com maus olhos os professores que dão más notas aos seus educandos. Num momento em que o professor será penalizado pela percentagem de maus resultados atribuídos aos seus alunos, qual é a mensagem que passa? Parece-me óbvia para todos … premeia a qualidade? …não creio …

As escolas já começaram a ser dotadas de todo o equipamento mais que necessário a uma avaliação tão exigente, para melhorar as práticas e as aprendizagens?! O número de alunos/turma já reduziu para permitir melhorar as aprendizagens e finalmente, conseguir diversificar estratégias, chegar a todos, isto é, aos que têm diferentes ritmos de aprendizagem, sem penalizar também os bons alunos?! A carga horária de algumas disciplinas já aumentou, no sentido de dar real, efectiva e viva continuidade aos conteúdos leccionados, sobretudo no terceiro ciclo, altura em que os alunos têm menor autonomia e pedagogicamente deveriam ter maior presença e acompanhamento do professor?! O número de disciplinas, sobretudo no terceiro ciclo já diminuiu, para que os alunos não se percam, cheguem ao final do ano lectivo conhecendo todos os professores e os conselhos de turma não se tornem souks marroquinos em vez de reuniões de trabalho?! Esta e outras questões se poderiam colocar, pelos vistos sem resposta que se veja. A fórmula mágica não resultará sem os dados todos funcionarem no mesmo sentido … haja honestidade e assuma-se que a qualidade educativa não é o objectivo, mas sim a contenção de despesas …

Outro aspecto que foi surpresa foi a elevada percentagem de docentes que conseguiram o tal cargo de titularidade, os que serão pastores do restante rebanho, estranhamente elevada para um quadro educativo de elevado desleixo e ausência de profissionalismo … afinal em que ficamos, os professores são incompetentes ou não? Não será isto tudo mais uma desculpa semelhante àquela que orientou os EUA a invadir o Iraque alegando ser este detentor de armas de destruição massiva?!

Também creio que estar na pele de carrasco titular e passar a conviver com situações melindrosas por parte da classe de cordeiros alvo de avaliação também não será tarefa fácil , cordeiros esses que também já passaram por uma avaliação pedagógica e científica, estagiaram e foram bem sucedidos, deram o melhor possível durante anos, sem qualquer benefício adicional, premiados com “congelamentos” na transição de escalões e muitas vezes, tiveram as turmas mais indisciplinadas e os cargos mais penosos que, os agora titulares, não desempenharam por puro acomodamento profissional aos anos, quando supostamente seriam os mais experientes.

Será que quando se depreende uma degradação nas futuras relações humanas na Escola, a criação de um nocivo sentimento de competitividade e receio instalado, prejudicial às próprias práticas lectivas e pedagógicas por oposição ao que deve ser realmente uma Escola enquanto motor de educação, de transmissão de práticas e atitudes positivas de entreajuda, empatia, compreensão, respeito, espontaneidade, …não fará sentido apelar à objecção de consciência?! Fica a questão …

                                                                                                           Brama

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publicado por Brama às 13:39
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