A pedido do Paulo “Felizes Juntos” e de Thetalesmaker e já que vim a casa de fugida e o ambiente é apropriadamente nostálgico, sinto-me confortável, tenho uma janela aberta para a praça ao meu lado direito, onde é possível percepcionar uma luminosidade agradável, está uma temperatura amena e cai uma chuvinha que escorre pela vidraça, vou escrever um pouco sobre sonhos … apenas alguns, daqueles que de utopia não passam evidentemente … só falarei de alguns. Para conferir um carácter ainda mais intenso à ambiência já em si propícia, acendi um incenso (aroma Jasmim da Loja do Gato Preto), que confesso já me estar a provocar uma certa dor de cabeça, grrrrr e acendi três velas que iluminam três cabeças de budas vermelhas. Para dar um toque final reforçando o ambiente que criei e torná-lo num momento só meu, coloquei na aparelhagem um álbum dos Sigur Rós, aquele que é todo branco, não tem título, nada escrito para que, segundo os elementos deste grupo islandês, os fãs possam escrever exactamente aquilo que quiserem no bloquinho interior. Da mesma forma, vou descolar-me por momentos deste planeta massacrado e massacrante e evadir-me momentaneamente de uma realidade, desta realidade e falar dos sonhos que exactamente me apetecer.
Sonho 1 – seguindo o raciocínio da minha amiga Suspeita, sonho em não viver em permanente sobressalto com a possibilidade de, cada vez que estou com aqueles que gosto e amo, estar mesmo pela última vez
Sonho 2 – sonho também com a possibilidade de apagar o fantasma de sequer imaginar as pessoas que são importantes para mim, ficarem de alguma forma inválidas ou presas sofridamente a uma cama de hospital até ao suspiro final
Sonho 3 – sonho em poder viver numa espécie de loteamento estilo vila italiana, onde fosse possível estar com todos aqueles de quem gosto, todos juntos
Sonho 4 – sonho em reunir uma vez que fosse, todos aqueles e aquelas que já passaram pela minha vida, juntá-los todos no mesmo espaço e percepcionar à distância que ligações estabeleceriam, como se desencadearia a conversação entre os diferentes elementos
Sonho 5 – sonho em ter a oportunidade de conhecer, nem que por um momento, a minha mãe … sentir o seu abraço e percepcionar o seu sorriso e o seu olhar e segredar-me ao ouvido que não tenho nada a temer e que um dia me poderei juntar à sua companhia … para depois desaparecer para sempre
Sonho 6 – sonho em abrir uma porta imensa e sentir-me invadido por uma luz radiosa, um Sol acolhedor, com uma escadaria imensa à minha frente sobre um relvado fresco que fosse desembocar a um lago calmo, tranquilo, translúcido em redor do qual brincassem crianças e animais, conversassem serenamente outras pessoas … todos efectivamente felizes, saudáveis, com tempo para rirem, se olharem, se tocarem (esta é a minha vertente Jeová … embora não acredite nela atenção!)
Sonho 7 – sonho em não ter de andar a correr contra o tempo, um tempo que flui inexoravelmente
Sonho 8 – sonho em não ter de acordar para ser bombardeado de manhã à noite com notícias de mortes, atentados, violência contra semelhantes e outros animais, fome que grassa, enfermidade, pobreza, violação, tortura, corrupção dos líderes, crime organizado ou, como ainda hoje mal acordei, com a novidade quase proferida bombasticamente como se de algo bom se tratasse, de que, ontem foi batido o record do número de acidentes de viação em Portugal, cerca de 580 num só dia, excelente! … por favor poupem-me.
É de salientar que este sonho não é extensível à ministra da educação e respectivo secretário, ao primeiro – ministro, à restante comitiva e à generalidade dos deputados, gestores, administradores e dirigentes desportivos, … bem como, ao Bush. Esses seres não estão abrangidos pelos meus bons sonhos, que se note!!!
Sonho 9 – sonho em que o Homem deixe de ter a pretensão de que o que de bom lhe acontece derive de mão divina. Só agora pereceram cerca de 10 000 pessoas no Bangladesh, muitos deles já antes e irremediavelmente pobres … coitados, o valor do bem Vida para estes deve ser menos valioso do que para outros … Deus não lhes estendeu a mão
Sonho 10 – sonho em que o Homem valorize o que é realmente de valorizar
Sonho 11 – (descendo à Terra porque não me cabe resolver os males do mundo), sonho em poder viajar pelo mundo, conhecer outras realidades diferentes da minha, sentir outras formas de percepcionar a vida, contactar com outras gentes, outras culturas, outros odores e aromas e com tudo isso, enriquecer pessoalmente e perspectivar o mundo de outros ângulos, mas com conhecimento in loco dessas realidades
…. E chega de sonhos por agora …
a chuva acalmou … vou então partilhar um dos mais belos sonhos que já tive e mais de uma vez, estranhamente o mesmo.
Observei-me a mim próprio reanimando numa pequena canoa que, se aproximava calmamente da costa de uma ilhota, num mar sereno e batido por um Sol imenso. A canoa parou naturalmente, como se por si própria soubesse que era ali o local. No mesmo instante saltei da canoa e deambulei um pouco pela praia, antes de penetrar pelo interior arborizado da ilha. Apercebo-me da particularidade da ilha, muito diferente de todas as ilhas que já havia visto ou imaginado. A ilha estava absolutamente repleta de árvores enormes, frondosas, bastante altas mas de uma serenidade apelativa; completamente repletas de cachos de flores brancas que sistematicamente caíam como se de penas se tratasse, deixando um maravilhoso aroma adocicado na atmosfera embriagante. Senti-me envolto de uma felicidade fervorosa, de uma total paz interior e quase instintivamente sigo por um caminho de terra batida bordejado por um fofinho estrato herbáceo. Enquanto caminho, olho atentamente em redor e confirmo a grandiosidade daqueles seres vegetais que me acompanham no percurso parecendo dar-me as boas vindas e recebendo-me como se tivesse sido sempre ali o meu lugar, celebrando essa esperada chegada com o aroma libertado e os cachos de flores que entretanto, quase como uma chuvinha de prata, se espalham na atmosfera de toda a pequena ilha. Ao longe avisto uma casa em pedra com um ar bem rústico, uma pequena casa no meio do arvoredo, onde termina o caminho que sigo. Sei que é para lá que devo dirigir-me e ansiosamente acelero o passo. A uns metros de alcançar o objectivo, acordo mais uma vez … mas não consigo irritar-me porque estou tranquilo.
Brama
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