O Domingo é e sempre será o dia da semana que mais detesto ... é um dia ínsipido, enerva-me em absoluto porque parece disprovido de qualquer sentido, um dia em que nada apetece fazer mesmo que nos apeteça teoricamente, um dia que sabemos antecipar o desagradável retomar à tortura do dia seguinte, tortura cada vez mais real, mais efectiva porque sentimos ser, não pessoas, como antes, mas peças da meticulosa e doentia engrenagem ministerial. Eu já não me sinto propriamente professor ou educador, sinto-me um verdadeiro burocrata e funcionário em despachar papéis para todos os sítios, papel sem utilidade real mas que agride cada vez mais o Ambiente de equilíbrio já tão débil. Acho mesmo que o primeiro objectivo da formação que fiz, o de ensinar a minha disciplina, já não tem praticamente lugar e será apenas função de alguns professores abençoados e iluminados pela posição que ocupam em algumas escolas e que, contra todas as expectativas, ainda conseguem escolher as turmas onde poderão ensinar apenas e exclusivamente a disciplina para que se formaram e claro, com uma fantástica estratégia táctica, livrarem-se mesmo do exercício de algumas funções que envolvam demasiada papelada e muita responsabilidade. Esses poucos, serão os verdadeiros professores, os outros muitos, funcionários a laborar mecanicamente, de preferência sem grande demonstração do tal espírito crítico e autonomia (que aconselham vivamente e avaliam nos seus alunos), sob pena dessas capacidades se traduzirem negativamente na sua própria avaliação.
A semana que está a terminar foi (posso afirmá-lo), como se costuma dizer, uma "semana de cão". Estive na minha Fábrica (vulgo, Escola), todos os dias da semana, os três turnos diários que, ainda há pouco tempo se constava não ser legal. Isto quer dizer que, estive na escola a manhã, a tarde e a noite de quatro dos cinco dias. No último estive de manhã até ao almoço. Trabalhei mais do que as trinta e cinco horas que me pagam e nelas não estou a englobar naturalmente as nove horas de formação que tenho feito semanalmente (que por lei, terão de ser realizadas em horário pós- laboral, embora a nossa avaliação também dependa delas). Senti-me uma espécie de operário entre os milhões de chineses que estão fechados nas suas fábricas a trabalhar incansavelmente, sem chegarem a ver a luz do Sol. Só me faltou dormir na Escola o que, pelo rumo que as coisas levam, já não visiono como impossível. Após os toshibas e os fujitsus dos 150 da e-escolas, seguir-se-á talvez, os colchões mais duros ou menos duros para a professorada apoiar a cervical na sua instituição de ensino numa sala a designar pela escola (ao abrigo da autonomia de escolas) e aí pernoitarem durante a semana, o que é muito mais produtivo para o Ministério da Educação. Atenção este cenário não é delírio meu, pelo rumo que as coisas levam, acho mesmo possível e os "professores" acatarão logicamente como tudo o resto. Já estou a imaginar reuniões de departamento para escolher as salas por departamento para as dormidas e montar os "camalhos". Já estou a imaginar as discussões entre os docentes porque há que dar privilégio à titularidade na escolha das melhores salas, as mais quentinhas, as que recebem directamente luz solar, as que se encontram mais perto do w.c. ... Será uma loucura, reuniões atrás de reuniões sem chegar a um consenso, com horas extra não pagas, com discussões levadas a pedagógico ... lindo e maravilhoso.
Ainda nesta semana, aconteceu-me algo inédito. Na quarta-feira, por impossibilidade de ser noutro momento qualquer, atendendo aos horários super preenchidos e diversificados de todos os docentes, eis que tive três reuniões à mesma hora. Sim, não se admirem, três reuniões às 14h30. Resultado, estive todo o dia na escola das 8h10 até às 22h, com uma hora de almoço, sim apenas uma hora livre neste espaço de tempo e ainda acabei por ter falta a uma das reuniões porque, qual Super Homem, só consegui estar presente em duas delas. Evidentemente que a falta será justificada internamente, mas é um pouco desagradável imaginar-me todo o dia na escola e no final ainda ter falta ... no mínimo irónico. Noutra altura aborrecia-me muito mais, mas agora sinto-me cada vez mais imune a tudo. No meio da palhaçada montada, se quisermos sobreviver há que rir um pouco também e não levar nada a sério. Convém no entanto continuar a representar bem e fingir que estamos todos afectados pelo rumo das peripécias ministeriais e todos muito empenhados nesta missão. Este país não tem futuro e isso é cada vez mais claro para mim.
É Domingo, claro que tenho coisas para fazer ... qual é o professor que não as tem nesta altura do ano??? Mas não vou fazer ... fica tudinho para a semana, durante a semana logo faço, até porque depois desta semana, sinto-me desmotivado para pegar sequer numa esferográfica e sinto-me mesmo irremediavelmente inerte.
Brama
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